Cegonheira, hotel e sem mobília: como é a vida de Elisson, que foi emprestado 10 vezes

Elisson Aparecido Rosa vem de uma tradicional escola de goleiros, conviveu com Gomes, Fábio e Jefferson. Sonhava em ser como Dida, mas precisou sair do Cruzeiro para conseguir realizar seus sonhos. Apesar de estar na Toca da Raposa desde os 11 anos de idade, ele foi emprestado por dez vezes para outras equipes e se tornou um cigano da bola. Acostumado com a ótima estrutura do clube celeste, o jovem encarou a realidade dos clubes menores.

“O primeiro empréstimo foi em 2007 quando fui jogar no Guarani de Divinópolis-MG. Eu morava debaixo da arquibancada e pensava: ‘O que eu vou fazer agora?’. Então, conheci outros caras que estavam na mesma situação e um deu força para o outro”, disse o goleiro, atualmente no Vila Nova-GO, ao ESPN.com.br.

“Depois que comecei a treinar e a criar uma rotina nova as coisas se ajeitaram. O futebol é legal também por isso, cada lugar que você vai faz amizades novas”, disse.

Só que os momentos de felicidade não apagam as dificuldades da vida de um jogador.

“Eu já morei também em república com jogadores. Cada quarto tinha cinco pessoas e eu senti mais dificuldade. Porque tinha casado e tinha uma rotina e um local para a gente. Também já morei alguns períodos em hotel até arrumar uma casa ou apartamento nas cidades”.

O goleiro do Vila Nova conta que a constante rotina de mudanças de cidade é bastante puxada.

“Geralmente a gente chega e já arruma uma casa o mais rápido possível para trazer a família toda. Eu nunca levo móveis, eletrodomésticos nem nada. Alugamos apartamento todo mobiliado e levamos apenas nossas roupas. A gente aluga um caminhão ‘cegonheira’ para transportar o nosso carro. Desta vez, eu vim dirigindo por 10 horas de BH até Goiânia. É tudo trabalhoso. Acham que os caras te dão carro e tal, mas não é nada assim (risos)”.

Elisson já defendeu Guarani de Divinópolis-MG, Cabofriense-RJ, Itaúna-MG, Uberaba-MG, Rio Branco-MG, Nacional da Madeira-POR, Villa Nova-MG, Rio Verde-GO e Coritiba e Vila Nova-GO.

“Toda mudança gera um certo desconforto. Você precisa remontar sua vida. Tinha clubes que era só um campeonato de quatro meses e tinha que mudar na cidade. Às vezes não era aquilo que se esperava em termos de estrutura, mas tem que se adaptar o mais rápido possível. Depois, as coisas se ajeitam.”

Aos 30 anos de idade, o goleiro aprendeu uma grande lição com as andanças pelo mundo da bola.

“Precisamos nos desdobrar a cada dia e quando começamos a criar um vínculo com as pessoas e as cidades está na hora de se mudar. A gente abdica de muitas coisas na vida particular e as coisas não são tão fáceis assim. As pessoas só olham o lado glamouroso e ganha bem e tal. Mas sou muito feliz com a profissão que escolhi.”

Natural de Belo Horizonte, Elisson virou arqueiro por influência de sua família, que é apaixonada por futebol.

“Meu primo era muito bom goleiro, mas veio a falecer dentro de campo. Eu primeiro passei em um teste no América-MG, mas como não tinha escola dentro do clube meu pai não me deixou ficar lá. Então, eu passei no Cruzeiro e nunca mais saí”.

Ele permaneceu na base do time celeste até chegar aos profissionais, quando conheceu o ídolo Fábio, jogador com mais partidas na história do clube, ultrapassando a marca de 700 jogos.

“Ele virou um grande espelho para mim. Começamos a trabalhar juntos e é um baita goleiro e um baita caráter. É um amigo que me ensinou muito. Eu aprendi muito vendo ele treinar e jogar.”

“Na maioria das vezes eu pedi para ser emprestado porque o Fábio estava em grande fase e não daria uma chance tão cedo para mim. Então, eu queria ganhar experiência e alguns treinadores que trabalharam comigo na base me faziam convite e eu abraçava a causa.”

A evolução e a dedicação levaram o jovem goleiro até as seleções de base, porém, uma contusão colocou fim ao sonho.

“Tinha feito toda preparação para o Sul-Americano sub-20, mas não pude jogar porque tive que operar o joelho. Fiquei muito desapontado . Tive que passar por outro procedimento porque deu rejeição, então me bateu uma depressão. Lutei tanto para chegar, mas não foi da vontade de Deus”.

Ao invés de desistir, Elisson voltou ainda com ainda mais força. Após uma excursão para a Europa com o time B do Cruzeiro, ele chamou atenção de clubes portugueses.

“Eu tinha luxado o dedo um dia antes da viagem e queriam me tirar, mas eu fui mesmo assim. Fiz tratamento durante a viagem de avião até Portugal. Fiz grandes jogos de despertei interesse do Braga, mas a negociação não deu certo. Acabei emprestado ao Nacional da Ilha Madeira.”

Foram dois anos na Europa de crescimento pessoal e profissional. “Aprendi demais por lá com cultura nova e levei minha esposa. Depois, retornei ao Cruzeiro que estava lutando para não cair em 2011.”

Fonte: ESPN