“Lei nº 9.615 de 24 de Março de 1998
Institui normas gerais sobre desporto e dá outras providências.
Art. 42. Pertence às entidades de prática desportiva o direito de arena, consistente na prerrogativa exclusiva de negociar, autorizar ou proibir a captação, a fixação, a emissão, a transmissão, a retransmissão ou a reprodução de imagens, por qualquer meio ou processo, de espetáculo desportivo de que participem.”
A Lei 9.615, de 24 de março de 1988, é conhecida como Lei Pelé. É ela quem rege a transmissão dos jogos de times neste país. A leitura deste item não permite dupla interpretação. Os clubes decidem qual tevê vai mostrar suas partidas. Se há o confronto entre equipes diferentes, o jogo não é mostrado. Ponto final.”
Este era o início de matéria escrita no blog no dia 16 de março. A Globo perdia seu monopólio de transmissão no Brasileiro. O Esporte Interativo já havia conseguido romper a barreira na tevê a cabo. Com uma política firme, ambiciosa, conseguiu até agora firmar contrato entre 2019 a 2024 com Atlético Paranaense, Coritiba, Internacional, Santos, Santa Cruz, Figueirense, Ponte Preta Bahia, Ceará, Sampaio Corrêa, Criciúma, Joinville, Paysandu, Paraná e Fortaleza.
A oferta, R$ 550 milhões. Se todos os clubes da Série A assinarem. Como conseguiu sete, o pagamento caiu proporcionalmente, para R$ 200 milhões. Equipes da B e C recebem menos.
Mas é muito mais do que a Globo pagava R$ 60 milhões para os times da Série A dividirem por jogos mostrados nos canais Sportv. A emissora manteve o monopólio da aberta e no pay-per-view.
O então presidente do Esporte Interativo, Edgar Diniz, estava eufórico no final do ano. Ele já havia conseguido comprar com exclusividade a Champions League, o melhor torneio interclubes do mundo. Desbancou a ESPN/Brasil, Fox Sports e Sportv. Fez uma oferta inesperada de R$ 130 milhões contra R$ 26 milhões ofertados por ESPN/Globosat juntas. Conquistou esse direito de 2015 até 2018 na tevê fechada.
De roldão, veio também a Liga Europa.
O dinheiro veio da bilionária Turner, que virou sócia/proprietária do Esporte Interativo. Os planos eram ambiciosos. Fazer propostas altíssimas para conseguir os grandes campeonatos de futebol no Brasil. O Esporte Interativo conseguiu a Copa do Nordeste, a Lampions League. Estaduais do Nordeste e Norte do País.
O Esporte Interativo teve uma guerra poderosa com a Net e a Sky. As duas empresas de telecomunicação responsáveis pela venda de assinaturas de canais não deram espaço para o EI. Foi uma batalha de gigantes. Envolveu a Turner, a Disney, a Globosat, a Fox.
Além da pressão dos telespectadores, desesperados por assistirem o Esporte Interativo, a disputa não deixou espaço para a amadores. O presidente do Esporte Interativo, Edgar Diniz, havia deixado ressentimento em gente poderosa. Ele foi acusado de inflacionar o mercado. Justo quando o Brasil mergulhou na recessão.
A pressão pela sua saída era imensa. A decisão ocorreu em maio, quando a Turner percebeu que havia comprometido muito dinheiro no Brasileiro. E não tinha conseguido contratar os cinco clubes mais populares do Brasil. Corinthians, Flamengo, São Paulo, Palmeiras e Vasco. Foi a gota d’água para que ele fosse afastado.
Sem Edgar, a concorrência deixou de ser tão agressiva, radical, entre as emissoras. A ESPN/Brasil já começou a dividir a transmissão do Espanhol com a Fox Sports. O mesmo vale para o Campeonato Alemão e o Italiano.
Há até a possibilidade do Esporte Interativo sublicenciar a Champions League para uma das concorrentes. A ESPN/Brasil segue muito interessada em ter o torneio novamente. Assim como a próprio Globosat.
A matéria publicada no blog em março já alertava que, no Brasileiro da Série A, haveria a necessidade de uma composição. Esporte Interativo e Globosat teriam de se acertar. Ou inúmeras partidas não seriam transmitidas. Uma das possibilidades era o revezamento. Cada emissora mostraria os jogos dos ‘seus’ times quando atuassem casa.
Mas a saída está sendo ainda mais pacífica. O meu colega Eduardo Ohata conseguiu a notícia. A Ponte Preta, que já havia negociado com o Esporte Interativo, também fechou contrato com a Globo. Para o Premiere e a aberta. Ainda deixou mais do que encaminhado o acerto na fechada. As duas emissoras mostrarão seus jogos ‘a cabo’ de 2019 a 2024. A composição fará com que o clube receba dos dois lados. Intermediários garantem que está tudo certo.
Está rompido o lacre.
O efeito cascata é uma questão de tempo.
O mesmo tipo de acordo deverá se estender aos demais clubes brasileiros. Na prática, Esporte Interativo e Sportv transmitirão os Brasileiros da Série A juntos. Por cinco anos.
Não haverá a esperada represália da Globo com os clubes que assinaram com o Esporte Interativo. O que deverá agora, por exemplo, acelerar a assinatura de contrato do Palmeiras. Paulo Nobre já fazia um leilão com as duas emissoras. Agora sabe que as duas deverão dividir o que o clube exigir.
Não é uma derrota para o Esporte Interativo.
Muito pelo contrário.
O objetivo foi conseguido.
O canal da Turner terá o Brasileiro da Série A.
O preço saiu alto demais.
Só que não havia jeito.
Porque o monopólio parecia eterno.
Edgar Diniz foi perfeito na hora de negociar.
Capturou os rebeldes, sabia que no futuro, a Globo teria de negociar.
Mas Diniz não contava com a fidelidade dos mais populares.
Seus presidentes viraram as costas à sua melhor proposta.
Corinthians, Flamengo, São Paulo, Vasco ficaram com a Globo.
O Palmeiras resolveu fazer um leilão ‘eterno’.
Essa postura custou a presidência do Esporte Interativo.
Mas mesmo afastado de todo o processo, ele tem motivos para sorrir.
Seu sonho está dando mais do que certo.
Tinha a convicção que a Lei Pelé obrigaria o acordo.
A Ponte Preta mostra o caminho que será seguido.
Com as duas emissoras dividido o Brasileiro ‘no cabo’.
Acabou o monopólio da Globo no Campeonato Brasileiro.
O preço foi caro.
A sua próprio emprego.
Mas o sacrifício valeu a pena.
Pode sorrir, Edgar…
Fonte: Cosme Rímoli (R7)
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