Os presidentes das federações estaduais de futebol, que semana passada ganharam força sobre os clubes para eleger presidente e vice-presidentes na CBF, têm como premissa a perpetuação no poder.
Em média, somando os anos no comando, os 27 cartolas têm pouco mais de 12 anos à frente das federações. Sete deles estão com o poder há mais de 20 anos, e o campeão de permanência continua sendo Zeca Xaud, que em 2017 completará 43 anos como presidente da Federação de Roraima.
A direção da CBF argumenta que o novo estatuto da entidade retira a possibilidade de perpetuação, com a inclusão de apenas uma reeleição. Desde 1958, quando João Havelange assumiu a então CBD (antiga CBF), foram oito presidentes apenas, contanto o interino Antônio Carlos Nunes, que preside a Federação do Pará há 28 anos e substituiu Marco Polo Del Nero, de licença para se defender das acusações de corrupção, por três meses no começo de 2016.
O limite de mandato, porém, só valerá a partir da próxima gestão, que assume em 2019. Ou seja, Marco Polo Del Nero, eleito em 2015, pode ganhar em 2019, se reeleger em 2023 e ficar no poder até 2027, total de 12 anos, na média que os cartolas estaduais permanecem mandando.
Há federações com nomes novos, mas a maioria dos mandatos mais recentes seguem dois perfis: primeiro o de apadrinhado político de cartola anterior, que ficou por anos. Caso de Alagoas, que tem Felipe Omena Feijó substituindo o pai, Gustavo Feijó, vice da CBF que ficou no poder na alagoana por sete anos (de 2008 a 2015).
Ou seja, os Feijó dominam por ali há nove anos. Outro perfil é o de cartola que deixa o poder por problemas de saúde, como no Mato Grosso. Carlos Orione comandou por 39 anos a federação local, e só saiu no começo de 2016 porque estava doente (ele morreu em Novembro passado).
Hoje, como o colégio eleitoral da CBF está desenhado e pelo perfil da cartolagem das federações, que adotam a continuidade como modelo, Marco Polo Del Nero não tem rival.
Peso na votação
A decisão de dar peso maior ao voto de cada um dos 27 presidentes de federações, em detrimento aos 40 clubes votantes (20 da Série A e 20 da Série B, como manda a lei de responsabilidade fiscal no esporte), segundo a CBF, foi porque as federações representam os clubes menores, que votam para eleger seus presidentes. Seria, na visão da CBF, tirar da elite o poder decisório do futuro do futebol brasileiro, abrindo a todos os clubes a escolha, por meio das federações.
Ficou definido em assembleia na semana passada que os votos das federações terão peso 3, ou seja, totalizam 81 votos. Os votos dos clubes da Série A têm peso 2, ou seja, 40, e os da Série B peso 1, 20 no total. Somando-se toda a votação dos clubes, eles ficam com 60, 21 a menos que as federações. Qualquer acordo entre a cartolagem regional definirá as eleições dentro da CBF — e os clubes não estavam presentes na assembleia que definiu o peso na votação.
Tempo do mandato dos presidentes das federações estaduais
Roraima – Zeca Xaud – 43 anos
Acre – Antônio Aquino Lopes – 33 anos
Rondonia – Heitor Costa – 29 anos
Pará – Antonio Carlos Nunes – 28 anos
Amazonas – Dissica Valério – 28 anos
Tocantins – Leomar Quintanilha – 23 anos
Mato Grosso do Sul – Francisco Cezário – 19 anos
Bahia – Ednaldo Rodrigues – 16 anos
Rio Grande do Sul – Francisco Novelletto – 13 anos
Amapá – Roberto Góes – 11 anos
Rio – Rubens Lopes – 11 anos
Goiás – André Pitta – 10 anos
Paraná – Hélio Cury – 10 anos
Rio Grande do Norte – José Vanildo da Silva – 10 anos
Ceará – Mauro Carmélio – 8 anos
Piauí – Cesarino Oliveira – 7 anos
Maranhão – Antônio Américo – 6 anos
Pernambuco – Evandro Carvalho – 6 anos
Minas Gerais – Castellar Guimarães – 3 anos
São Paulo – Reinaldo Carneiro Bastos – 2 anos
Espirito Santo – Gustavo Vieira – 2 anos
Paraíba – Amadeu Rodrigues – 2 anos
Alagoas – Felipe Omena Feijó – 2 anos
Sergipe – Milton Dantas – 1 ano
Distrito Federal – Erivaldo Alves – 1 ano
Santa Catarina – Rubens Renato Angelotti – 4 meses
Mato Grosso – Aron Dresh – presidente eleito (assume em maio).
Fonte: Blog do Marcel Rizzo
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