‘No mundo todo o licenciamento funcionou. Por que aqui não vai funcionar?’

Diretor de registro e transferências da CBF, Reynaldo Buzzoni fala sobre as ações do setor e perspectivas de mudanças no futebol nacional com o novo regulamento de licenças da entidade. Infraestrutura é o item que deve dar mais trabalho

Qual é a principal dor de cabeça que a função traz a você?
Registramos todos os contratos, fazemos todas as transferências. O sistema tem que ser adaptado todo o ano, vamos criando melhorias. Tratamos com 800 clubes, profissionais e amadores. O futebol é dinâmico, o cara quer contratar hoje e colocar para jogar amanhã. Não quer saber de parte burocrática. Agora, implantamos a novidade que é a exigência de colocar um atestado médico da realização do exames sugeridos pela Fifa. O sistema nem deixa registrar se não tiver, é inteligente. O contrato agora tem três folhas.

Entende que há clubes demais no país?
Não é que há clubes demais. Os clubes tem que ser profissionais ou amadores, temos que definir o que é. Teremos um regulamento de registro de clubes e vai apontar: O que ele minimamente tem de estrutura para ser profissional? Se não der para ser, vira amador. A ideia é criar um processo que apresente o que o clube precisa e, futuramente, cadastrar até escolinhas também, para que tenham direito ao valor do mecanismo de solidariedade. É tudo uma cadeia, futebol é um só. Centralizar aqui é bom para todo mundo. A Fifa só reconhece o direito ao mecanismo se tiver registrado na CBF. É um jeito de regular. O Gabriel Jesus apareceu no Palmeiras com 16 anos. Antes, não tem nada, mas jogou em escolinha. E esse cara não estava registrado.

Céticos dizem: O licenciamento é mais uma lei que não vai pegar no Brasil. O que dizer?
No mundo todo funcionou. Por que aqui não vai funcionar? O professor Alvaro de Mello Filho diz: Se todo lugar bom tem licenciamento, por que aqui não vai ter? Tem na Sérvia, países menores da Uefa. Eles da Uefa disseram que somos parecidos. Eles têm mais de 50 países e nós temos 27 federações. É algo gradual. Demoraram 10 anos para implementar lá. Não é tudo ano que vem. Em 2018, tem que ter licença. Mas para isso pode ser que só precise, por exemplo, ter a parte jurídica estruturada ou estádio para jogar. Por isso vamos fazer o diagnóstico dos clubes nos próximos três meses. O regulamento é o mundo ideal onde a gente quer chegar. Pode ser que demore 10 anos, não sei se vou estar aqui.

Entre as punições possíveis aos clubes está a retenção de cotas TV e premiações pagas pela CBF. Isso inclui o Brasileiro?
A cota de TV do Brasileiro é do contrato direto do clube. O dispositivo é sobre o que o clube tem a receber da CBF. Isso veio da Conmebol. Tem no regulamento dela. E colocamos no texto do nosso que as sanções da Conmebol podem ser usadas.

Fica frustrado que para ter tamanha mudança no futebol brasileiro a iniciativa não seja tanto dos clubes e sim de uma “mão forte” de cima?
Alguns clubes eu vejo que já vêm fazendo, melhorando gestão. Mas é também o que o mercado está pedindo, o patrocinador, a televisão. O clube tem que se adaptar. A ideia da parte financeira, criando modelo padrão de balanço, é para que o mercado veja. A grande dificuldade é que cada um bota de uma forma. Temos uma dificuldade de patrocinador no futebol. É um banco estatal e outro que é por causa da paixão pelo clube. Temos que voltar a criar alternativas.

O que vê como item mais complicado de ser aplicado no licenciamento?
A mais complicada é a questão de infraestrutura. São coisas que vão demandar investimento grande. Sabemos das condições financeiras dos clubes. E tem casos que os estádios são de prefeituras, e isso é outra dificuldade para melhorar. Mas o que eu acho mais importante é pelo menos dar o start na gestão profissional.

Como vai o inquérito policial que estava apurando a transação do meia Bismark, do Santa Rita (AL). Você até foi depor…
O inquérito está parado, segundo o advogado. Eu falei que tinha chegado uma decisão judicial mandando rescindir o contrato do jogador. Decisão judicial se cumpre. Só isso. Ano passado, foram mais de 100 rescisões via justiça. Se chega uma decisão, acabou. Para onde ele vai se transferir é com o clube.

O Inter não desistiu de tentar provar que Victor Ramos estava irregular…
O processo vai se definir na Corte Arbitral do Esporte. A mim não incomoda.

 

Fonte: De Prima – UOL